Carência afetiva: como superar essa doença

Depois de muito observar o ser humano, chego à conclusão de que todos nascem livres, mas morrem presos em cativeiro. Com raras exceções, a grande maioria morre prisioneiro da carência afetiva, da necessidade de agradar o outro, de ser aceito, reconhecido, respeitado, prisioneiro do sofrimento. A grande maioria é inconsciente do seu maior poder – o poder de amar – capaz de libertar desse cativeiro. Acreditamos que o que precisamos está fora, quando a fonte de todo amor está em nós mesmos.

 

Com isso, fica muito evidente que há um engano na forma como escolhemos viver em sociedade, já que temos usado o nosso poder de escolha e decisão de uma forma equivocada. Estamos doentes, individual e coletivamente. Uma doença do ego que nos faz dependentes e codependentes do outro. Precisamos que ele esteja fraco para que nos sintamos fortes. Nos tornamos codependentes da pobreza, da doença, da miséria em todos os seus aspectos. Observe isso em suas relações, em nossas estruturas sociais, políticas, econômicas, religiosas.

Passamos a ver o irreal como real. As crianças quando nascem são desprendidas, espontâneas, mas aos poucos, vão sendo condicionadas, recebem um treinamento de como viver, de como precisam ser. Ensinamos regras que fazem sentido, até para protegê-las, mas esquecemos de dizer que essas regras podem ser abandonadas em determinado momento. E esquecemos de dizer isso a elas porque nós mesmos nos perdemos nesses condicionamentos.

A criança vai crescendo e aprendendo a acreditar na falta, e consequentemente, sentindo medo de que falte – amor, dinheiro, alegria, bem-aventurança, paz. O medo da falta aciona o ódio, que por sua vez, desperta a vingança. A doença está instaurada e seus sintomas só pioram ao longo da vida. Faz-se necessário ter coragem para romper com esse condicionamento. É emergencial acordar desse sonho ruim, no qual acreditamos ser carentes e vítimas de tudo lá fora. Coragem para resgatar a confiança e se entregar para o fluxo da vida.

Mesmo com todos esses choques e revezes que sofremos, nós temos que conseguir romper com as defesas, com o veneno que que segregamos para nos defender e que, agora, está matando a nós mesmos. Porque quando você odeia o outro, odeia a si mesmo; quando se fecha para alguém, se fecha para a vida e perde a oportunidade de celebrar.

Eu venho insistindo para que você comece essa desprogramação por meio da sua família, reparando as relações, por mais desafiadoras que sejam. Você precisa chegar a um acordo, a um lugar de compaixão em relação a sua família dentro de você. Se você se liberta dos pactos de vingança em relação a sua família, por eles terem roubado sua liberdade e sua confiança, começa a se harmonizar com seu entorno e a amar novamente. Esses pactos encobrem quem você é, sua confiança e liberdade e o mantêm presos a essa carência desmedida.

Há que se ter coragem para entregar as armas, não aceitar o convite para a briga. Há que se empenhar para conquistar de volta a harmonia que é natural em seu coração, purificando-o. E você começa a fazer isso entregando seus dons e talentos a serviço do amor. Como é que você pode servir ao mundo? O que é que você tem para dar? Quando você começa a se doar, vai perceber que tem uma força extra de impulsão para subir. Isso é amor.

Na medida em que puder se alimentar dele, as cortinas da ilusão desaparecem. Você se sente pertencendo, conectado a uma rede de bem-aventurança. E, pouco a pouco, vai se lembrando de quem você é. Vai se lembrando do seu poder. Vai se lembrando de que você é o amor.

 

 

Sri Prem Baba