Entrevista Antônio Geraldo da Silva Filho - Barquinha

Nome: Antônio Geraldo da Silva Filho.  Idade: 56 anos. Começou no 2012 Antônio G Farda M2Daime aos 8 anos de idade. Caçula dos homens, foi preparado pelo pai desde cedo para dar continuidade ao Trabalho do Mestre Geraldo da Silva (pai), Fundador do Centro Espírita Daniel Pereira de Matos, na Vila Ivonete, em Rio Branco, no Acre. Data: entrevista realizada no dia 28 de setembro de 2012, durante a visita da Fraternidade Rosa da Vida à Barquinha, em Rio Branco no Acre.

O que é a Barquinha?

A Barquinha é um segmento, na verdade, se formos analisar a coisa em si mesmo, todos os segmentos, todas as religiões representam um barco neste mundo de ilusão, resgatando as pessoas que estão perdidas e as encaminhado para Deus e essa é a busca. Então, a Barquinha é um segmento, uma religião que busca, neste mundo de ilusão, resgatar aqueles que estão perdidos. A Barquinha é representada por um barco, um navio, com seu comandante, sua tripulação, suas obrigações, para navegar e atracar nos lugares e fazer resgates. No templo, a mesa ao centro tem o formato de uma cruz e porque tem esse formato? Porque ela representa o corpo de Deus, com 12 cadeiras principais, que representam os 12 apóstolos.

Ali dentro do trabalho, todos ficam com o pensamento firme, em sincronismo com o poder superior e assim recebendo as orientações para comandar a embarcação. Cada hino que se canta ali tem um dão. Por isso que um hino não pode ser dado, simplesmente porque eles não pertencem a pessoas, porque pessoas na verdade são os instrumentos pelo qual os hinos são trazidos para este mundo. O Fundador, Mestre Antônio Gerando, dizia que ele apenas recebia e escrevia os hinos e que, quando a Entidade que transmitiu o hino, quisesse vir para trazer uma orientação, então ele ia e cantava o hino e é assim que funciona. Cada Sessão é um trabalho inteiro. Começa com uma abertura, onde são cantados cinco hinos, com os quais se abre as portas. Depois são cantados outros hinos, que abrem as janelas. Depois vêm os reforços invisíveis, uma cavalaria, que vem para proteger as pessoas, para que possam dar andamento ao trabalho, naquele dia. Ainda, tem o trabalho de preparação, que acontece nas quartas-feiras, onde depois da abertura ocorre uma concentração, depois ouve-se os hinos de instrução, com a pregação do Santo Evangelho, mensagens psicografadas e depois dessa parte, canta-se os hinos de encerramento e nessa parte as entidades que quiserem se manifestar trazem algumas mensagens, orientações, cantamos hinos por orientação dessas Entidades e então fazemos o fechamento do trabalho.

Um hino cantado separadamente não atinge o objetivo e por isso, cada Trabalho tem seu hinário específico e cada data tem o seu próprio hinário. Por exemplo, na Semana Santa são cantados cinquenta hinos e esses hinos contam a história do sofrimento de Cristo. Assim cada trabalho tem o seu próprio hinário. Então veja, se nesta semana vamos comemorar Nossa Senhora, então antes precisamos programar os equipamentos e como há uma dificuldade com material humano, ou seja, os instrumentistas, adquirimos um teclado, onde são programados o contrabaixo, a guitarra, a harmonia e outros instrumentos e assim os acompanhamentos ficam prontos para o trabalho, de acordo com as instruções recebidas das Entidades para o Trabalho. Com tudo preparado, os acompanhamentos, os hinos a serem tocados no dia, apresentamos o hinário. Depois então abro espaço para outras entidades que queiram se manifestar, e daí colocamos hinos para homenagear aquela Entidade (ser espiritual) que se fez presente.

O que é a comunidade da Barquinha?  

2012 Antônio G Salao2O fundador da Barquinha foi Daniel Pereira de Matos, que conduziu os trabalhos por 12 anos. Ele começou do nada, no meio da floresta, só ele, Deus e os pássaros e ali iniciou o trabalho, bebeu Daime com Mestre Irineu Serra que era conterrâneo do Maranhão, mas depois recebeu sua missão e fundou seu próprio Centro, dentro da floresta. Após 12 anos passou a chave da missão para o Mestre Antônio Geraldo (pai), que comandou essa mesma missão por mais 18 anos, no local que foi fundando. Mestre Daniel quando partiu deixou somente uma Igrejinha inacabada. Mestre Antônio Geraldo, quando tomou as rédeas ampliou a missão por meio das orientações recebidas dentro da luz. Na época, por exemplo, não tinha fardamento, não tinha bailado, não tinha o Cruzeiro e tudo foi sendo recebido pelo Mestre Antônio Geraldo, que recebeu também o hinário. Assim, passados 18 anos, ele recebeu uma nova missão, a de fundar outro Centro, o qual atribuiu o nome de: Centro Espirita Daniel Pereira de Matos, em homenagem ao Fundador da Barquinha e dai prosseguiu com essa nova missão. A abertura do Centro Espírita Daniel Pereira de Matos foi no dia 20 de janeiro de 1.979 e daí comandou esse Centro até julho de 2000, quando faleceu, deixando um legado de mais de 300 hinos que são cantados na Igreja e mais de 700 hinos para as festas com bailado, quando as entidades que passaram os hinos vem para bailar. Esses hinos foram todos recebidos entre os anos 1979 e 2000.

Existem três barquinhas, como funciona isso administrativamente?

O Centro Espirita Daniel Pereira de Matos não têm ligação com as outras2012 Antônio G Centro Barquinhas. A Barquinha Central, onde tudo começou, continua lá e ainda tem a Barquinha comandada pela Chica. Gostaria de lembrar que o Mestre Antônio Geraldo jamais renunciou a missão dele. Ele simplesmente mudou de local, por ordens superiores, levando a missão que lhe foi confiada pelo Mestre Daniel e assim nasceu esta Barquinha. O Mestre Antônio Geraldo cumpriu sua missão até o fim, prova disso são os mais de 1000 hinos que recebeu. Um legado de mensagens de profundo conhecimento que só quem aprende a meditar, contemplar, buscar fundo mesmo, consegue compreender a grandeza que são esses ensinamentos. Então, os três Centros da Barquinha em Rio Branco, cada uma tem seu estatuto, isso porque o Mestre Antônio Geraldo, recebeu essa orientação de se mudar, de deixar o ambiente onde tudo começou e fundar uma nova Casa para dar continuidade a sua missão. Assim também a Chica, coordenadora do outro centro, recebeu ordens para se mudar e fundar uma nova Barquinha.

No caso dos hinários, os outros centros, além dos hinos recebidos por Mestre Antônio Geraldo, adotam outros, assim como nós aqui também usamos o hinário do Mestre Daniel, que foi recebido lá. Antes de 1.979, na primeira missão lá na Barquinha do Centro, Mestre Antônio Geraldo recebeu muitos hinos, afinal foram 18 anos, para se ter uma ideia. Desses 18 anos, ele passou 10 anos sem poder ir para canto nenhum. Era do Centro para casa e de casa para o Centro. Até para cortar o cabelo o barbeiro ia até ele. Quanto à administração, cada Centro tem sua forma de administrar. Quem substituiu Mestre Antônio Geraldo na Barquinha Central, foi o Mestre Francisco que está lá até hoje. O Bailado nas três barquinhas é do mesmo jeito, só tem dois detalhes, no nosso bailado não cantamos hinos de outros centros, porque nós temos nossos próprios. Tem alguns cantos, que nós não cantamos até hoje, veja, são mais 1.000 e nas festas não da para usar nem um terço deles. Já nos outros Centros, eles cantam outras canções. Na forma de bailar também, nos bailamos no sentido horário e os demais bailam no sentido anti-horário. Quando Mestre Antônio Geraldo fundou o Centro Espírita Daniel Pereira de Matos, colocou o bailado no sentido horário. Quando ele desencarnou, tentamos mudar o bailado, de maneira que ficássemos iguais aos demais centros, no sentido anti-horário, mas nos arrependemos, porque venho para mim algumas cobranças e fui questionar, por quê? E fui levado a um pé de Mariri e da forma como ele se enrola na árvore e assim na explicação, mostraram porque daquela forma, do porque daquela maneira, daí mantivemos diferente, como é até hoje.

Qual a principal filosofia, ou crenças ligadas a Barquinha?  

2012 Antônio G Salao

Adotamos a linha Franciscana, mas todas as linhas estão contidas dentro. Se formos analisar, por exemplo, podemos identificar a linha de Alan Kardec, entre outras. Então, outras filosofias estão contidas no trabalho. Mas, a principal filosofia é a caridade mesmo. Ajudar os necessitados, no caso, mais os necessitados espirituais. Esta é uma casa doutrinária, que doutrina os encarnados e mais os não encarnados, que são muitos.

Quem é Antônio Geraldo?

Eu sou uma pessoa se não simples e humilde, me esforço para ser. Acredito na vida. Acredito que a chave para vencer é a humildade. Procuro transmitir humildade e amor, não só com palavras, mas com a prática, porque é isso que a missão pede e é o que eu prego e é isso que faço. Acredito que não adianta querer falar de paz, de amor, de verdade, se eu realmente não praticar isso. O maior ensinamento que se dá é por meio da prática. A palavra não vai realizar o que o exemplo não mostra.

Sou uma pessoa simples, não gosto, por exemplo, que as pessoas me chamem de Presidente, de Mestre, de Padrinho. Eu compreendo que precisamos ter uma organização material, ter um estatuto, mas eu não dou muita importância para isso. Eu vejo as coisas assim: - Presidente, por exemplo, nós somos missionários e presidente fica melhor para uma empresa. - Padrinho, eu aprecio pela consideração, pois compreendo que quando a pessoa me chama de Padrinho, ela está mostrando sua gratidão, seu respeito, seu carinho, seu amor, agora isso não me envaidece, não penso ser melhor por isso, pois me sinto igual a todos. Acho que, ninguém é mais do que ninguém. – Mestre: mestre para mim é Jesus Cristo. Compreendo que as pessoas chamam no bom sentido, pela consideração, mas eu não me acho um Mestre. Eu acredito que sou um missionário, que tem a missão de ajudar a humanidade e de ser ajudado, porque ninguém faz nada a ninguém, tudo o que fazemos é para nós mesmos, bom ou ruim. Eu sempre oriento as pessoas, que elas precisam fazer o bem, pois tudo que fizermos de bom é ainda melhor para nós, porque o que vai contar do outro lado, são as boas obras, as boas ações. Então, eu sou essa pessoa.

Sobre meu lado profissional, eu procurei sempre viver dos meus esforços, do meu suor, do meu trabalho. Com 16 anos, larguei os meus estudos, apesar do papai lutar muito para que eu continuasse e procurei aprender profissões. Com 12 anos já trabalhava numa mecânica (Auto Mecânica São José) e daí por diante aprendi varias profissões, rádio técnico, operador de máquinas, conserto trator de esteiras, retroescavadeiras, enfim qualquer máquina e eu opero elas também.  Trabalho nessa área a 26 anos. Na prefeitura de Rio Branco sou responsável pela área de máquinas. Então, não me formei, mas aprendi varias profissões que me deram respaldo para poder criar meus filhos, manter minha família, considerando que casei muito cedo. Eu tinha 17 anos e minha esposa tinha 13 anos e hoje estou com 56 anos, já temos 5 filhos, 4 homens e uma menina, sendo que um filho é adotado. Tenho ainda, 6 netos. Graças a Deus minha família esta criada, consegui criar.

Sobre a maneira de ser, não sou uma pessoa que gosta de buscar luxo, sou satisfeito com aquilo que Deus me dá. Claro que busco uma qualidade de vida melhor, mas sem exageros, sem aquele desespero de ter isso ou aquilo. Por exemplo, se eu quisesse ter um carro novo, com certeza eu poderia ter, pois na minha condição profissional me permitiria. Mas eu prefiro meu carinho velho e quando Deus achar que devo ter um novo, tudo bem. Mas eu realmente não ligo para essas coisas. Não me importo de estar todo empalitozado, com roupas chiques, gosto de estar bem vestidinho, limpinho e com roupas limpinhas. Estando assim, está tudo bem. Também não me importo se as pessoas vão censurar porque estou com roupas simples, pois olhando por esse ângulo eu penso mais em mim. Antes de casarmos disse para a minha esposa que eu era assim e pedi se me aceitaria. Bem, não sei o que deu nela, mas ela disse: “Eu aceito.” e estamos aqui, com uma grande família. Em 37 anos de casados, eu sempre a apresento dizendo: “Esta é minha namorada.”. Penso que temos que ter amor. Meu papai sempre dizia que um casal para sobreviver precisa sempre namorar. Namorar e trocar um carinho, ser carinhoso, companheiros mesmo, enfim compreensivos.

Tem determinadas situações que, no inicio, o casal se ama, mas depois vêm os filhos, vem o tempo e começam a se ligar só nos afazeres, nos filhos e se esquecem de si próprios é ai começa a entrar o negativismo e aquilo vai ficando, vira só um companheirismo e o amor fica longe e a gente não pode deixar essa chama se apagar, precisamos sempre alimentar essa chama para que o casal possa ir em frente.  

Qual a mensagem para os irmãos da Fraternidade e de outras comunidades que comungam a Ayuaska?

O que eu poderia dizer para a Comunidade de vocês é que busquem sempre estar firmes, que não desistam, tenham fé, acreditem, pois é um belo trabalho e assim como vocês, como pessoas, já foram ajudadas, muitas outras pessoas também podem ser ajudadas, mas precisam ter fé e ter acima de tudo, muita seriedade.

Dentro dessa luz, às vezes as pessoas veem determinadas mirações, muitas embarcam em viagens que não tem nada a ver. Por exemplo, gosto de citar uma miração do meu Papai: ele teve uma determinada miração, onde ele se deparou com são Francisco de Assis. Era São Francisco! Mas ele questionou assim: Eu vendo são Francisco aqui, na minha frente? Frente a frente com ele? Então contava que percebeu que as roupas de São Francisco não tinham brilho e aí ele automaticamente, ali, naquela miração fez uma prece. Perguntando a São Francisco que lhe mostrasse a realidade daquilo que estava vendo e de repente aquele São Francisco de Assis sumiu e ai viu brilhar uma luz, lá longe, um luz muito forte, uma luz resplandecente e ai a voz disse, aquele é São Francisco. Então meu papai completava, de que nós, com as nossas imperfeiçoes não temos condições de ver uma Entidade como São Francisco, já purificada, assim, na nossa frente, porque nós não aguentaríamos a luz dele. Porque estamos ainda no nosso estado de imperfeição e é muito fácil nos constatarmos isso, se olharmos os Santos Evangelhos podemos encontrar naquela passagem, de Cristo, sobre o Monte, com Pedro e Tiago, que ao chegarem lá se deparam com Elias, Moisés e naquele resplendor de luz, os irmãos que estavam com ele e caíram por terra. Agora imagina! Eles já andavam ali junto de Jesus Cristo, eram discípulos de Cristo e não aguentaram. Só Cristo aguentou a luz e aí podemos ter uma ideia do que aconteceria, se nós, com nossas imperfeições, nos deparássemos com uma entidade dessas, em nossa frente.

Deus pode tudo e pode sim criar um meio para que possamos ver, mas a certa distância. Por isso precisamos ter merecimentos, fazer as coisas certas e buscar com o aperfeiçoamento nos aproximar assim dessa realidade. Bem, mas se o Papai não tivesse tido essa experiência, ele iria sair falando que conversou com São Francisco de Assis e na realidade era uma intrusão, que queria tapear ele fazendo o de bobo, pois existe muito isso e então, ele de forma esperta, fez essa separação. Precisamos sempre questionar tudo e só através do questionamento é que podemos ter a certeza, encontrar a verdade e a verdade liberta, então ele completava: não acreditem no que eu falo, busquem, se preparem, bebam a Santa Luz, busquem e daí, com vocês testificando, vocês vão ter mais confiança em mim, naquilo que estão fazendo e no compromisso que estão seguindo.

E para as pessoas que não tem contato com essa bebida?

Para as pessoas que não conhecem o Daime e que, no caso de virem a conhecer, que antes de tudo se preparem, precisam ter respeito e beber o Santo Daime de uma forma respeitosa, carinhosa, não só com o intuito que não leve nada de positivo para seu aperfeiçoamento. O Daime é uma coisa Divina, por isso chamamos de “Santo” Daime, porque ele tem um poder transformador. De transformar as pessoas, de ruins para boas e de boas para melhores. Orem! Não depende só do Santo Daime, mas da pessoa também querer se transformar, querer se lapidar, tendo também muito cuidado no trato com essa bebida, porque dentro do campo espiritual têm os dois lados, positivo e negativo.

Considerações finais

Eu digo o seguinte para 2012 Antônio G Farda MFraternidade, vocês estão passando por aqui, pelo Acre, pela Barquinha e é um motivo de alegria para mim e para toda a comunidade e estamos deixando este espaço aberto para quando vocês, se realmente quiserem comparecer e nos visitar, compartilhar desse Trabalho, será sempre um prazer recebe-los nesta casa e que, quem sabe, no futuro, caso tenha a permissão e que Deus crie as condições para que eu possa chegar lá, também irei visita-los.

Elton 28/09/2012 FIM